Do meu pai não herdei as convicções políticas. Ainda hoje evito abordar o tema quando estamos juntos para não ferir as suas opiniões políticas arraigadas. Manteve-se socialista toda a vida mas hoje não quer rótulos. A sua personalidade é mais do que isso: um rótulo. Ao longo da vida fui-me afastando de uma série de conceitos e visões que partilhávamos. Sempre o tive por exemplo e custou-me aceitar que um dia poderia ser diferente dele relativamente à matéria político-social.
António Barreto foi sempre alguém que o meu pai respeitou e admirou. Não teve de me "ensinar" a partilhar essa opinião dele. Ao longo do tempo tive dificuldade em perceber, dado o meu distanciamento por vezes visceral do socialismo, como eu poderia também admirar esta personalidade. A questão da validade rotular que o meu pai desprezou sempre fez com que um conservador, como agora eu me rotulo, tenha a capacidade de dar o devido valor aos que pensam diferente apesar de desvalorizar determinados dogmas, ideologias ou doutrinas políticas.
António Barreto é hoje Presidente do Conselho de Administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que tem vindo a editar uma série de ensaios obrigatórios para entender melhor o país que somos. Para além disso é co-responsável por um trabalho invulgarmente fantástico na área da estatística, que me foi dada a conhecer por um professor dessa cadeira na faculdade: a Pordata.
Hoje, admiro também Barreto pela sua coragem. Por dizer o que pensa sem medo de ofender alguém mais que a sua própria consciência.