José Sócrates está chocado com a colocação do tema "Aborto" na agenda da campanha. Passos Coelho deu o mote e Paulo Portas reconhece que reavaliação da lei do aborto é «uma evidência que se impõe». Louçã fala em sec. XXI e progressismo para avaliar a lei que não fez mais que dar leniência à irresponsabilidade. Hoje, fazem-se mais abortos: legais e ilegais.
Convém lembrar José Sócrates de alguns números do referendo de 2007 em relação ao anterior de 1998, para além da esmagadora vitória de um "Sim" a uma questão que não empregou a palavra que melhor retrata o que se estava a votar:
Votos em branco - mais 22.037 votos
Votos nulos - mais 10.322 votos
Percebo perfeitamente que se vote em branco e nulo numa eleição que elege pessoas e partidos. Desenhar uma forma fálica num boletim de voto ou escrever "querem é poleiro" é perfeitamente válida no que diz respeito à expressão democrática, embora não se contabilize como válida para a votação propriamente dita, como é óbvio. Para mim faz mais sentido esse tipo de arte gráfica num boletim de voto que o voto num determinado partido ou pessoa. Mas custa-me a acreditar que alguém esclarecido relativamente a uma questão nuclear de qualquer civilização se dê ao trabalho de se deslocar a uma mesa de voto para exprimir a sua opinião desta forma.
Para além de se poder especular em como a questão "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas dez primeiras semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?", utilizada em ambos referendos, poderá ou não baralhar os cidadão menos formados e informados, interessa saber porque é que em 2007 as pessoas estavam menos esclarecidas que em 1998. E como podemos entender um "progresso" de 18% dos votantes em menos de 10 anos.
José Sócrates não está chocado, está preocupado.